quarta-feira, julho 14, 2010

Diferenças entre o Pala e Poncho gaúcho.

Hoje de tarde estava trabalhando, como faço habitualmente todos os dias..hehe e quando entrei em uma sala  encontrei minha colega de trabalho (a Pola) utilizando o que chamei de Pala.
Daí fiz um comentário para ela do tipo: "Mas ah! moça gaúcha de pala pra se proteger do frio", e a Pola, que é de Dom Pedrito, me retrucou dizendo: "Este não é pala, é poncho". E ela foi além, me disse que pala era aquele que tinha o talho pra colocar o pescoço e era sem gola.
Eu respondi dizendo que eu achava que pala eram aqueles que serviam para nos proteger do frio ou do calor, independente do formato e que o poncho era pra proteger da chuva...
Daí demos o assunto por encerrado, mas aquela nossa conversa me deixou curioso e por isto resolví pesquisar. Que bom que encontrei uma boa explicação para compartilhar com os amigos.
OBS: Ainda não sei ao certo qual deles a Pola estava usando, segundo a definição abaixo, acho que era um Poncho-Pala. Portanto, deu empate! Exceto pelas definições de pala e poncho que nós tinhamos...hehe

Pala: de lã ou algodão, quando protege contra o frio, ou de seda, quando protege contra o calor. É sempre retangular, com franjas nos quatro lados. Pode ostentar listas retas, paralelas aos lados maiores do retângulo. A gola do pala é um talho, por onde o gaúcho enfia o pescoço.

Poncho: de lã grossa, invariavelmente. É azul escuro, forrado de baeta colorada ou também negro de baeta colorada ou com forro de baeta amarelada e ainda podem ser de cor cinza, com forro de baeta encarnada. O poncho tem a forma circular ou oval. Como o pala, sua produção é industrializada. O poncho protege contra o frio e a chuva. Não tem franjas e não tem listras. A gola é alta, abotoada e tem um peitilho na frente do poncho.

Bichará ou Pichará: é um pala feito em teares manuais, de tecelagem folclórica, com a lã natural de ovelha, quase sempre nas cores naturais dessa lã. Raramente com cores químicas. O bichará é feito de dois panos, tecidos um de cada vez, e que fora do tear são costurados um ao outro deixando apenas uma abertura ao centro para a cabeça. O bichará protege contra o frio.

Poncho-Pala: É um pala maior, de lã industrializada, forma semi-retangular e com os cantos levemente arredondados, com franjas ao redor. Protege contra o frio.

6 comentários:

Cristian Rogers S. D. disse...

Pois só sei que passei um frio de renguear cusco, hoje, na parada de bus. Fosse pala ou poncho, tava bueno demás!

Indicarei esse post na comunidade Koisas de Gaúcho (no Facebook), pra avisar o conterrâneo.

Abraço

Cristian Rogers S. D.

Adail Augusto Agostini disse...


Senhor:
Ninguém falou de um detalhe fundamental, que faz com que - mesmo à distância - se saiba se é pala ou se é poncho.
O pala sempre é curto e sem gola, de lã fina.
O poncho sempre é de lâ grossa e bem comprido, de forma que quando usado - à cavalo - no frio ou na chuva, cobre desde as ancas da montaria até as botas do gaúcho, abrigando bem a ambos.
E tem, também, uma gola larga o suficiente, para que - quando levantada - abrigue o pescoço do cavaleiro, seja do vento, seja do frio, seja da chuva, chuva esta que (se assim não fosse) penetraria pelas suas costas, mesmo com o uso de um chapéu de abas bem largas.
Quanto aos enfeites e detalhes, isso, normalmente ficava conforme os gostos e pedidos do usuário a quem os confeccionasse.
E se o usuário estava a pé, a maioria dos ponchos era tão grande que se arrastava pelo chão, fazendo com que o gaúcho, ao caminhar, puxasse-o para frente, enrolando os excessos em ambos os braços, para evitar sujar as bordas, seja no chão, seja no barro.
E se, por alguma razão, alguém quisesse provocar para a briga algum desafeto - fosse em um baile, onde o dito ao dançar deixava escorregar dos braços as extremidades do poncho, ou fosse por estar meio borracho e sem cuidados e, ao andar, acontecia a mesma coisa - o provocador pisava na borda traseira e isso provocava um safanão no pescoço do provocado, que, às vezes, chegava a perder o equilíbrio.
E aí estava feito o bochincho, normalmente resolvido a pontaços de adaga - pois "o homem que homem peleia de perto" - com conseqüências sempre trágicas, com, no mínimo, um deles ficar morto, pois "talho de palmo e meio era vacina".
Usar revolver ou garrucha era coisa de traiçoeiro ou de covarde, e nunca em ambiente fechado para evitar ferir inocentes.
Daí o porquê do "e sem alguém me pisar no pala" é uma expressão absurda, a não ser que o dito abrigo estivesse estendido no chão e alguém limpasse as botas nele.
E como o gaúcho só tirava o pala ou o poncho - quando tirava!!! - para dormir ou se cobrir com ele, isso era praticamente impossível, pois - quando não o usava - o deixava pendurado para secar e/ou arejar.
E eu sei do quê que estou falando - estou com 70 anos - pois, na minha infância até meados da minha juventude - em todas as férias escolares, eu as passava na campanha, fosse em estâncias do meu Alegrete, fosse nas de municípios vizinhos, pois tinha colegas (filhos e filhas de fazendeiros) de todas esses arredores, a me convidar, sabendo do quanto isso me agradava.
Mesmo depois era - e até hoje é- a minha atividade preferida.
Troco qualquer ida para praias por uma ida paras as campanhas.
E lá ainda encontro aqueles cueras que teimosamnente não abandonam as suas querências e as suas raízes.
Ao contrário dos mais jovens que atraídos pelas luzes das cidades se transformam no que muito bem diz uma canção: "antes ginetes, hoje cavalos".
Por isso posso dizer que conheci e conheço os verdadeiros gaúchos e gaúchas - nos seus costumes, vestimentas, linguajares e tradições.
Lamentavelmente, esses - autênticos e puros - estão desaparecendo rapidamente, e no seu lugar estão surgindo uns/umas tais que se apelidam de gaúchos e gaúchas, inventando estórias, vestimentas, linguagens e hábitos que nunca existiram, usando a mídia para se promoverem, "vendendo lambaris como se fossem surubis".
E pelo que vejo, o rumo desse suposto tradicionalismo vai ser o mesmo das escolas de samba e dos desfiles de carnaval.
Do original praticamente nada mais resta.
É apenas um falso espetáculo midiático - uma sombra tênue do passado - para que um bando de vivarachos ganhem muitos pilas à custa dos otários e trouxas que neles acreditam ou "vão na sua conversa fiada".
Desculpe-me o meu desabafo.
Adail Augusto Agostini
ALEGRETE - RS

Jei Ghi disse...

"Pala é um Poncho com franjas, de seda, alpaca ou algodão. Não há piá no meu rincão que não lhe faça um esboço. Tem um furo pro pescoço e dá quase no garrão. O Bixará feito à mão é um Pala de lã bem grosso

Unknown disse...

Pena que muito se fala de tradição apenas, para vender algo,
Quando tradição e para lembrar de respeito honestidade que a palavra vale mais que documento que quando um homem erra não tem de argumentar pois sua vergonha e maior, que coragem e um dom válioso demais para deixar levar num engate com covarde, e mais mil talentos que só quem tem tradição sabe o que é, e quiser saber tem que nascer gaúcho viver e morrer porque ler não adianta.

Tulio Cruz Marins disse...

Meus parabéns pela estoria de vida e sinceridade Sr Adail.
Sou de Sorocaba SP tenho hoje 43 anos sou formado em veterinária mas vivo a cavalo desde 5 anos de idade quando fiz minha primeira prova de equitação, desde então nunca mais parei, cresci usando bombacha e guaiaca, bota e laço, rodei o mundo laçando, montado em rodeios na crina e até nos EUA em sela americana, fundei enquanto estudava no interior de SP o ctg da cidade com O apoio de um gaúcho dono da churrascaria, fui ao festival da barrancos em São Borja,convidado por amigos de Baje dos Angueras e desde 1999 moro pra fora num pequeno sítio com a esposa e dois filhos e tenho muito orgulho de ser produtor rural, domador, guasqueiro. Já me disse Luiz Carlos Borges no festival da Barranca: " Quem nasce no Rio Grande é Riograndense, gaúcho é outra coisa" . O Sr é bem vindo aqui é está representado. Sorocaba foi o ponto do tropeirismo que vinga do Rio Grande do Sul, por isso tanta ligação.

Anônimo disse...

Existe uma palavra que também pode auxiliar na compreensão dos significados de pala e poncho. Que é a palavra: Proteção.
Pala tem uma variação maior de significado do que poncho. Porém, se dá pela utilidade que a palavra apresenta aos usos do cotidiano.
Pala também está associado a um assessório ou "Tala" mais rígida para abrigo dos olhos...geralmente em relação ao ofuscar de luzes (sol). O Pala, como vestimenta, então poderia proteger ao calor e a luminosidade intensa. No calor pode ser um tecido que você molhaa para se refrescar, para gotejar água se não tiver uma garrafa, para proteger a pele da intensidade do sol, areia, fumaça. Numa briga, serve de protetor para o braço que vai escorar os golpes, servirá de escudo na peleja. Enquanto a sua mão mais hábil é usada para ataque. Dependendo o tecido, o pala também te abriga do frio.
Já o poncho é mais adaptado a proteção contra o frio e principalmente umidade. Proteje daquilo que não queremos que fique molhado. A pessoa, as encilhas da cavalgadura, uma mochila,livros e tudo onque não quiser molhado. Por isso, é uma peça mais robusta, mais comprida, pesada e mais abrigada no pescoço e pernas